*AMOR, ONTEM HOJE E SEMPRE
Ela não queria casar, dizia minha avó. Tão novinha, dezessete anos, mas o pai arranjou casamento com um velho de quarenta.
Quarenta anos, é velho, né vó? - Não menina, boa idade, mas, a menina chamava-o de velho, visto que na flor da juventude os olhares se consumiam noutro jovem de dezoito anos. O mesmo pensar, ideias bobas, bobas para a inocência de ontem, hoje as crianças nascem ouvindo o que não devem, aprendem com a rapidez de um clique e desabrocham antes que o botão chegue ao tempo programado pela natureza.
Pois bem, a menina casou com o quarentão. Sujeito, namorador, gado pastando ao longe onde a vista alcançava, sorridente. É sorriso dos afortunados de bolso gordo.
A pobrezinha foi para o suplício do casamento sem amor. Na época, dizia a avó, não havia namoro. O rapaz olhava para a moça simpatizava e a noitinha ia pedi-la em casamento. Amor se arranja no casamento, na convivência, comentava a avó.
Sem namorar? - Sem namorar. Todas as noites o noivo, (noivado curto), tinha que ser curto, para não ficar alisando banco, comentava o pai da noiva. Ficavam todos na sala: noivos, pais, irmãos, papagaio, cachorro e quem mais chegassem para guardar a moça do lobo.
Que lobo vó? - O noivo, menina. O pai dizia: sou homem e homem só gosta de safadeza. .- Cruz credo vó. - Benza-se mesmo menina, homem é sexo, mulher é sentimento. Discordo vó, os dois se igualaram em tudo, amor, sexo, sentimento, profissão. Está bem. Continuando a história.
Casaram-se. Festa com mesa farta, churrasco, sanfoneiro, dança de salão, folguedos e tudo mais que posses e o momento exigiam.
Silêncio total. Até o vento contribuía para a hora do amor. Pezinhos delicados e nus correram gritando. Socorro pai, socorro. Como o senhor me arranja marido tão safado, que não me respeita?
O que ele fez? Bateu em você, maltratou, judiou? Diga menina e eu acabo com aquele safado.
Não. A voz e a vergonha tremiam sem controle. – Ele... ele... apareceu pelado na minha frente. Mulheeeeeer, tu não ensinaste esta menina as coisas do casamento? - Tá doido homem, isto é coisa que se ensine as filhas, isso é missão do marido. - Volte pro seu marido menina. Casamento é assim mesmo e vê se traz muitos netos.
O noivo chega à casa da moça, que saíra para pedir arrego a avó, mulher viúva destemida e temida enfrentava qualquer homem de forma igual. - Menina a falação vai tomar conta do povoado e você jamais casará. Volte para o seu marido
Estou aqui Mariazinha, monta no meu cavalo e partiremos para onde o espaço nos der espaço. O amor falou mais alto, sem época, sem preconceito, com todas as razões que o coração dita. Ele, o coração tocando acelerado, abraçou a jovem amada na frente do seu corpo sobre a cela, nas horas da madrugada, apenas a natureza como testemunha. Dezesseis filhos vieram como herança.
Ficou para o noivo apenas a frase da avó. O amor, senhor, é o mais nobre das conquistas. Não compre, ame e seja amado.
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História da minha avó
Sonia Nogueira
Enviado por Sonia Nogueira em 14/02/2021