*A ESPERA
Amanheceu. O sol mal apontou, o pensamento saltou da cama, olhou pela janela, olhar de inquietude procurou o infinito do trilho. Rumou para estação bem próxima.
No céu, as nuvens andavam faceiras, distantes do sol, em formas variadas. Em cada desenho a imagem sustentava, segundos apenas, e novas formas desenhadas alimentavam o olhar, enganava a mente. O sol saindo, aos poucos, do outro lado do planeta, olhava cada país com posse e poder, com raios longos, luz incandescente à medida que a manhã consumia as horas, e a temperatura aumentava sua força gigantesca.
Minutos foram passando, horas acumuladas pela manhã, inquietas. O sol derramava mais e mais calor, unindo ansiedade no peito palpitante. Na espera prolongada, a lágrima fazia morada pronta para banhar a face triste, ao anunciar o apito. - Falou a voz trêmula. A buzina! O coração acelerou na esperança de uma mão ou rosto acenando na chegada.
A marcha ficou lenta, próximo à estação, o olhar se curvou em cada janela, em cada mão que acenava a chegada para os familiares, ou pelo prazer de partilhar do convívio social.
Risos eram distribuídos, abraços apertados, saudades fazendo alvoroço. A cada descida, a ânsia aumentava, na esperança de um par de pernas na sua direção, o coração palpitando forte, colado ao seu, demonstrando amor com mistura de saudade.
Era o pensamento que descrevia a cena, a vontade, aliada ao querer, pintava o quadro com tintas coloridas.
No vazio de cada janela e porta, a resposta.
A tristeza voltou ao lugar de origem, a espera fez morada na encruzilhada entre espera e desilusão. O quadro tomou as cores desbotadas, e o colorido do sonho retornou ao preto e branco, o pincel na mão para nova tela.
Na volta, as nuvens se uniram, a cor clara ganhou azul escuro, o vento açoitou em direção ao norte, e pingos de água lavaram a poeira do automóvel. Seu coração, no entanto, permaneceu sem sol, confabulou com a chuva. Os lençóis a acolheram com tanto aconchego que o sono abraçou seu pesar e só deu tempo para pensar: outro horário, outro dia, outro apito, quem sabe a mão acenava.
Sonia Nogueira
Na Antologia da ACE - Associação Cearense de Escritores
Interação
As mãos que acenam adeus
nunca mais serão as mesmas
na volta amparam as lágrimas caídas
pelas calcadas ermas
e o sol posto ao meio dia
ronda para matar a tristeza
este adeus foi só um carinho?
ou será eterno, não se tem certeza
assim viajantes que somos na vida
entre adeus, voltas laço e nó
quando em noite cai a chuva
chora por nós com dó!
Beijos no coração, paz e luz!
Doce Val
Sonia Nogueira
Enviado por Sonia Nogueira em 16/01/2021
Alterado em 30/01/2021