*PASSAGEIRA DO TEMPO*
Debruço-me aqui na contemplação
Na janela do olhar pequena fresta
Que fotografa em minuciosa ação
O desfilar da vida a página deserta
Sopra o vento sem prever obstáculos
Chora a chuva sobre a cidade confusa
Na reprodução dos animais imáculos
Gira o Planeta sem propaganda difusa
Gorjeia a ave postada no ninho
Põe-se o sol sem sair do plano alinho
Multiplica-se o cantar som indefinido
Que ornamenta o luar adormido
Na vigília o beijo dos enamorados
Rendo-me a emoção do tempo alado
I
Rendo-me a emoção do tempo alado
E viajo na amplidão do pensamento
Confessando ao coração despojado
Que a vida passa, urge alinhamento
Dos passos que procuram outro abraço
Da nudez da alma oculta em desalento
Pudera eu roubar-lhe o sopro dar o laço
Apagar da tela o rabisco em vazamento
Desenhar no quadro a paz como lema
A plenitude do amor que a terra clama
Lavar todo planeta dizimar a falena
Sem perder da estrada a reta, o prumo
Não deixar apagar da vela a chama
Preservar o amor, alumiar o rumo
***
Poema selecionado para a Coletânea
Ecos Machadiano, verso e prosa
Salvador - Bahia
Sonia Nogueira
Enviado por Sonia Nogueira em 06/06/2009