São João Urbano
A quadrilha é um dança holandesa, trazida para o Brasil pelos alemães, apenas com 6 ou 8 pares dançada nos salões aristocráticos. Seu apogeu foi no século XVIIl na França. No século XIX espalhou-se pelo mundo ocidental. Foi introduzida no Brasil durante e Regência, desceu as escadarias da corte e tornou-se- uma dança popular.
No São João da roça nordestina as quadrilhas dançam a noite toda, com vestidos coloridos à moda matuta, tranças nos cabelos, batom vermelho, rosto de alegria, sem faltar o casamento, uma moça embuchada, noivo recusando o casamento, sendo obrigado a casar na ponta da peixeira, ou espingarda, para lavar a honra da família.
Na região urbana a brincadeira continua com uma maneira agradável de satirizar o matuto, com criações bem interessantes.
No dia 24 fui assistir a quadrilha na Sociedade de Assistência aos Cegos. Os pares foram formados, em número de 36, com um deficiente visual e um não deficiente. A organização, os passos ficaram dentro do ritmo. Os professores fantasiados a moda dos dançantes ficaram atentos a algum desvio dos deficientes que logo era corrigido de maneira suave e discreta.
A criação ficou muito engraçada. Uniram as ideais antigas com o jogo de futebol. Os noivos, Maria Chuteira e Clodor Baixo apareceram discutindo devido ao desacordo na decisão do noivo falando que ia assistir a copa na África, a convite de Marlene Mato. A noiva retrucou alegando que estava embuchada e precisava casar antes que os pais soubessem.
- Não acredito que vou ao jogo da copa!
- Eu irei mesmo sem você e não caso.
- Paiê, acuda eu!
- Que foi fia, que tá acontecendo? Quem é este bicho feio parece um chupa cabra, se fosse ao menos bonito com Ronaldinho Gaúcho.
- Ele não quer casar comigo, vais assistir o jogo na África.
- Há, mais num vai mermo. Via casar com minha fia nem que seja a custa desta espingarda, seu caba safado. Vamo logo chamar o pade.
- O padre sinhor, está longe, já foi também assistir o jogo.
- Então chamamo o juiz. Sinhô juiz compareça rápido, logo, agora.
Entra o juiz em trajes de juiz de futebol, de bermuda, apitando.
- Que acontece, qual a encrenca nestes times?
- Nada disso sinhô juiz, o sinhô vai fazer o casamento dos noivos.
- Nada disso. Sou juiz de jogo de futebol e não de casamento.
- Num quero saber, se é juiz vai casar minha fia sim, ou quer um balaço na cabeça.
- Se é assim vamos lá.
- O noivo aceita defender a noiva das cobras, das zebras da África e dos pênaltis,
- Prometo sim sinhô.
A noiva promete está pronta em todos os momentos, nas oitavas de final, quarta de final, semifinais, finais e parir um time completo?
- Prometo sim sinhô
- Estão prontos, são marido e mulher.
- A quadrilha iniciou com muita animação e aplausos. Sem faltar nas barracas com comidas típicas variadas a gosto dos visitantes.
SoniaNogueira
Sociedade de Assistência aos Cegos