*Crônica de Mim
Li o livro de uma amiga que foi homenageada no maior jornal de circulação da cidade. Era o aniversário de 53 anos de casada. Conheci-a por motivo de um convite da Sociedade de Assistência aos Cegos. Fiz poesia declamei para homenageá-la.
O livro fala da trajetória do amor dos dois. Desde que se conheceram dezesseis e dezenove anos. Conserva até hoje todas as cartas, num total de 256 mais ou menos. Uma boa parte está no livro e mostra a pureza de sentimentos. Ele um menino sério carrancudo, resquícios de uma educação rigorosa no seminário, sem grandes demonstrações de carinho, ela a doçura calcada numa criação bem projetada e de um amor que se enraizou ao longo dos anos.
Conclui que, quem sustenta o casamento é a mulher, se tiver amor e conclui mais ainda que eu nunca amei. Triste descoberta. Li não lembro onde, nem em qual época ou de qual autor, que há pessoas que nasceram para serem amadas outras para amar. Parece que nasci no primeiro bloco.
Como fui amada! Não houve cumplicidade o barco não remou estacionou e ainda está no cais o timoneiro de olhar distante, cabelos grisalhos reclamando o que nunca encontrou, cumplicidade.
Nada me envolveu nem chamou muito a atenção. Parecia uma passageira apressada com os livros debaixo das asas, com receio que caíssem o vento espalhasse e eu não pudesse mais reuni-los.
Duas paixões que enganou a mente. O coração acelerou, o olho brilhou, o pensamento maquiou a sena: o altar, filhos na escola, reunião, mercantil, passeios fim de semana, choro, hospital, noites mal dormidas. Nem terminou de pintar a tela jogou tudo pro alto, por nada. Faltou amor.
Como amar? Nunca soube. ”Quantos não mais acreditam na existência do amor por nunca o terem sentido...Sim, quantos gostariam de amar mas não sabem amar...Nem quem...Nem como amar...(Roberto Romanelli Maia).
Várias amigas casaram, sem amor. Por questões financeiras, posição social ou para não ficar pra titia, solteirona, coroa irritante, vitalina. Nenhum suportou o peso do outro. A cama era espinho farpado; a presença um iceberg na frente derretendo a cada gota gelando tudo formando erosão na alma. Tudo escuro, sem brilho, sem desejo sem a ânsia do beijo e do abraço a cada chegada e cada saída.
Amor não se compra. Se sente. Todo dia como uma planta. Rega, mima, dialoga, agradece, protege, elogia, cuida. Nunca deixa a raiz ficar sem o alimento necessário a vida. A água que nutre...