O vazio dos Bares
Muita cerveja, música, descontração e coração vazio nos restaurantes. É esta visão que sempre tenho quando chego a um restaurante. Fui convidada por colega para o aniversário de um restaurante que existe há 47 anos. Passou de pai para filho. Havia a oferta de uma feijoada pelo proprietário.
Alguns casais acompanhados. Outros, homens e mulheres, a maioria, com amigos. E com o pensamento em forma de indagação fiquei analisando. Por que os homens deixam as mulheres em casa? E logo veio e resposta. Para encher a cabeça de alguma bebida, não escutar o lamuriar da companheira ou encontrar alguma aventura de uma noitada sem nenhum compromisso. Ou preencher alguma lacuna...
A colega conhecia uma boa percentagem deles, devido o longo tempo de frequência no local. São sempre as mesmas pessoas, poucas diferentes e tornam- se desconhecidos sem vínculos de grande amizade. Ficou me apresentando bem discreta: aqueles separados, outros desquitados, viúvos ou casados e a mulher sabe Deus onde anda.
As mulheres por sua vez quando não suportam o peso da solidão, o descaso dos maridos, então passam a sair com as migas. Ambos podem interessar-se, por alguém é o lógico, o óbvio. A previsão dos desentendimentos e a separação vão aos poucos enlanguescendo, e, o até que a morte os separe passa a ser, até que a paciência, a solidão, o desinteresse os separem.
As músicas passaram por um rodízio, para agradar gregos e troianos. Primeiro as dos anos 60, em seguida Valdick Soriano, chamada de brega, porém carrega uma bagagem de palavras de amor que satisfazem por inteiro a dor de cotovelo dos amores perdidos ou os que nunca vierem. Depois músicas carnavalescas que acelerou os convivas, metade dos presentes se levantaram para balançar o corpo, depois música lenta para acalmar os ânimos.
Fui para atender ao pedido da colega. Mas os bares pouco me interessam. Sai e fui para o Templo da Poesia. Cantinho de amizade e arte cultural. Poemas, músicas, exposição de livros, organizado por Nildes Alencar e um grupo de amigos. A tranquilidade reinou no local. O sentimento poético com o recitar de poemas, o sentimento em cada palavra derramando gotas de criatividade em cada estrofe, baniu da mente o episódio anterior. O coquetel oferecido estava longe do álcool, apenas refrigerante, biscoitos, bolos, sanduiches caseiros enfeitava a mesa.
Conclui que os dois trazem o mesmo efeito. São irmãos gêmeos do infortúnio. Enquanto o álcool é motivo para disfarçar o sucumbir das mágoas do coração, o poeta despeja suas angústias e dores na palavra poética, sem o prejuízo de uma cirrose ou um desequilíbrio emocional, próprio de um cérebro embriagado.
É assim o lazer. Cada um com seu estilo e gosto. Bares, praias, recolhimento espiritual, pousadas, passeios a outras cidades ou países. Mas a cabeça acompanha o corpo que se diverte, mas quando voltam ao convívio familiar só estão completos quando a mente está em paz, a saúde em vigor, a união respirando ordem e duas almas se encontrem no mesmo duo, o amor.
sonianogueira