QUE A PAZ CHOVA NO MUNDO

SoniaNogueira

Arte e Emoção Caminhando

Textos


O VOTO SECRETO

Não sei por que inventaram essa geringonça de máquina para a gente votar. Estou nervoso e confuso, comentava ansioso o senhor Arlindo. Melhor seria no papel, mesmo escrevendo devagar e tortuoso. Voto secreto, sim, deve ser, para que alguém saber qual nosso candidato?
Foi nestas condições que o senhor Arlindo entrou na cabine de votação.
Também não quero ajuda, filho, eu aprendi tudinho em casa e olhando no televisor. Não passarei vergonha. Um homem da minha idade não saber votar!

O homem entrou na urna, desconfiado. Olhou para aquele aparelho pequeno e mudo. Pensou: “onde já se viu votar num negócio atrapalhado desse. E cabe esse montão de voto aí dentro? Tudo roubalheira para enganar os tolos. Vai ganhar quem eles quiserem. Isso é invenção para quem sabe lê. Eu mal assino o meu nome”!

-Não trouxe uma pesca, senhor?
-O quê? Quem falou?
Seu Arlindo pôs a cabeça fora da cabine para ver quem estava falando.
-A senhora está condenando minha pesca?
-Não, senhor, eu nada falei. O voto é secreto. O senhor permaneça calado. Termine logo e saia.
-Ora, ora, faço o favor de votar e a senhora ainda me apressa e perturba!
Seu Arlindo volta à cabine.

-Pegue sua copia, senhor, Arlindo, assim não erra.
-Ah! Essa caixinha é falante e ainda sabe até o eu nome! Muito interessante! Muito interessante! Ficou assustado com tanta invenção.
-Está bem, não me atrapalhe mais! Vou olhar bem direitinho. Abriu a pesca, digitou o número e saiu outra fotografia:

- Santo Deus! Não é o meu candidato. Não estou dizendo, tudo é roubo, colocam os candidatos que eles querem. Até a máquina é corrupta. E votou assim mesmo. Cada candidato vinha com foto diferente.
-Votou certinho, pai?
-Votei sim, filho, mas as fotos estavam diferentes.
-É assim mesmo, pai, nem sempre a gente fica bem na foto três por quatro.

Ao chegar a casa, reconheceu os candidatos pela televisão. “Foi este o retrato, este também e este outro”.
-Pai, o senhor votou nos candidatos do outro partido...

No livro,  Por Justa causa



Sonia Nogueira
Enviado por Sonia Nogueira em 02/10/2015
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